O topo da montanha, diante do altar
onde arde uma fogueira para sacrifícios, estão duas mulheres observando
os raios dourados e vermelhos do crepúsculo. O vento é muito, muito
forte: seus vestidos, brancos e feitos com os tecidos mais finos que a
Pérsia poderia produzir esvoaçam freneticamente tanto quanto seus
cabelos que, com a força do vento, tem seus penteados desmanchados, e,
em alguns instantes, lança mechas em seus rostos.
“Amanhã te casarás com o homem mais poderoso deste mundo” diz uma delas, “Sabeis bem o que é ser uma esposa, não?”
Estão uma de frente para a outra e ambas à esquerda do altar. As
duas são minuciosamente lindas: ambas tem cabelos negros cacheados,
olhos espontaneamente brilhantes e amendoados, corpos delicados e
convidativos e rostos que, quando contemplados, exigem grande esforço
para deixarem de ser observados e maior esforço ainda para não
apaixonar. Apesar de serem ligeiramente diferentes, nenhum observador
jamais conseguiria dizer que se trata de mãe e filha.
“Sei o que é ser uma esposa, por que tu me ensinaste.” responde a outra, “O que eu não sei ainda é ser uma rainha!” conclui.
Há uma única diferença marcante entre as duas: a mãe tem uma voz
confiante de mulher, enquanto a filha tem uma voz doce e fina de uma
adolescente.
“Vasti, minha filha, o que te assombras?” pergunta a mãe.
A moça abaixa os olhos, deixando óbvio seu sentimento de
preocupação. “Os Magos, mamãe.” responde ela como uma menininha pede
socorro, “eles não entendem nossa religião. Dizem que o Profeta
Zoroastro é uma fraude, um blasfemo. Eles não gostam de mim e, se eles
se opuseram a meu casamento, certamente me atormentarão no palácio”.
A mulher estende sua mão e, delicadamente, levanta pelo queixo a
cabeça de sua filha. Depois, olhando nos olhos dela, diz: “Tu és filha
de um dos maiores Generais de Infantaria e do maior proprietário de
terras da Pérsia. Teu pai enfrentou os Magos para converter-se ao
Zoroastrismo e casar-se comigo. Contigo será o mesmo.”
Os olhos da mocinha brilham com intensidade ainda maior. “Além
disso” continua a mulher a falar, “Mazdâh, o deus único sobre quem
Zoroastro ensinou, te escolheu para rainha. Seja fiel a ele e nunca, mas
nunca mesmo os Magos poderão fazer nada contra você!”
A mocinha dá um sorriso, e, como resposta sua mãe a abraça.